Horizon VS Tomb Raider | Design, mecânicas e sexo

Podem não ter começado como adversárias e as próprias produtoras e editoras podem nem sequer vê-las como tal, mas neste momento Lara Croft e Aloy são rivais inatas. Com a confirmação de que Rise of the Tomb Raider será um exclusivo Xbox e a revelação de Horizon Zero Dawn como um exclusivo PS4 para 2016, tanto o catálogo da Microsoft como o da Sony contam com jogos de acção na terceira pessoa com protagonistas femininas. A comparação é justa? Rise of the Tomb Raider é um jogo de acção e Horizon um RPG, embora ambos em mundos abertos. Não, não é justa, mas é inevitável e serve um propósito maior.

A começar pela imagem, tanto Tomb Raider como Horizon apresentam mulheres armadas com um arco num cenário selvagem. Parece parva a comparação, mas esta é a primeira imagem que o público tem de ambos os exclusivos antes de saber do que se tratam. Numa altura em que Lara Croft deixa para trás a Sony (a sua primeira casa no mundo das consolas), Aloy serve inevitavelmente como estandarte. O tom, por sua vez, tanto quanto sabemos, é diferente. Rise of the Tomb Raider foca-se no drama pessoal de Lara Croft, enquanto tudo aponta para uma história mais abrangente em Horizon, sendo esperada uma narrativa centrada na humanidade (explicando a queda da civilização e a razão de ser dos animais mecânicos) e não na protagonista Aloy.

O enredo de Horizon Zero Dawn é assinado por John Gonzalez, o responsável pela história de Fallout: New Vegas.
O enredo de Horizon Zero Dawn é assinado por John Gonzalez, o responsável pela história de Fallout: New Vegas.

São as diferenças de géneros, no entanto, que prometem distinguir claramente Rise of the Tomb Raider e Horizon Zero Dawn. Enquanto Lara Croft terá uma aventura mais ao estilo de Uncharted com a liberdade de mapas abertos à exploração (que é o mesmo que dizer uma aventura clássica de Tomb Raider, mas actualizada), Aloy estará entregue às dinâmicas próprias dos RPG de mundo aberto, como The Witcher 3: Wild Hunt e Fallout: New Vegas. As referências não são inocentes, dado que a Guerrilla Games foi buscar ajuda às equipas de ambos os títulos para evitar os erros de principante na sua estreia de um jogo de mundo aberto, como explicou ao gamesradar Jan Bart Van Beek, o responsável pela produção de Horizon Zero Dawn.

Horizon, tanto quanto Rise of the Tomb Raider, não promete vir a concretizar algo mais profundo e significativo no que respeita a vertente de sobrevivência. De acordo com a apresentação em palco e as várias entrevistas aos produtores de vários sites, os elementos de crafting deverão ser mais proeminentes e terão maior preponderância em Horizon do que em Rise of the Tomb Raider, mas ainda assim mais relevantes para a construção e aperfeiçoamento de armas do que para a sobrevivência básica (comer, beber, essas coisas banais do dia a dia de uma pessoa do Primeiro Mundo). A confirmar-se, será uma verdadeira pena, não só uma oportunidade desperdiçada, como a perpetuação de um uso inconsequente de um elemento de jogo com o poder de carregar a experiência com um impacto maior que não faz parte de títulos AAA desde Metal Gear Solid 3: Snake Eater.

Van Beek diz que não haverá tutoriais, antes um processo de tentativa erro; boas notícias numa indústria que teima em guiar os jogadores pela mão.
Van Beek diz que não haverá tutoriais, antes um processo de tentativa erro; boas notícias numa indústria que teima em guiar os jogadores pela mão.

Mas mais importante ainda do que aquilo que distingue os dois exclusivos e a sua rivalidade fictícia (ou não), é o facto de tanto Rise of the Tomb Raider como Horizon Zero Dawn apresentarem protagonistas femininas, algo que continua a ser motivo de espanto e de controvérsia na indústria dos videojogos. Shuhei Yoshida, Presidente da SCE Worlwide Studios, confessou o receio de que o público não aceitasse bem a proposta de uma protagonista e o seu medo é fundamentado, apesar da reacção ter sido esmagadoramente positiva.

Esta é uma indústria dominada por homens, estereótipos masculinos e em que a sexualidade é um tópico tabu, incompreensivelmente, apenas suportada quando representada de forma fantástica e exagerada, com raras excepções. É um ambiente possivelmente hostil para jogadoras, não só nos modos online como também pode transbordar na vida real, e a evolução do próprio caso #GamerGate serve de exemplo. É uma indústria onde a violência excessiva é um lugar comum, mas onde a sugestão de ameaça de violação (um perigo real para uma rapariga naufragada numa ilha com mercenários) é motivo de revolta. E não são só os produtores, ao evitarem mulheres protagonistas e recuarem nas suas decisões criativas, que são o problema, mas a maioria vocal da comunidade que rejeita essa possibilidade e os meios especializados que exploram e repercutem argumentos e protestos ignorantes e odiosos.

No Glitch estamos todos de acordo: se a história exige uma mulher como protagonista então que o protagonista seja uma mulher. Não valerá de nada, porém, se o for apenas por ser politicamente correcto ou porque a igualdade é uma coisa muito bonita e há uma quota para preencher. A condescendência para com as mulheres, reais ou virtuais, na indústria é um veneno tão malicioso quanto o preconceito e a discriminação sexual. Que sejam os criadores dos jogos a decidirem quem querem para personagem principal, de livre vontade, perfeita consciência e com responsabilidade, sem terem o público ou os altos cargos das editoras a exigir mudanças e a condenar as decisões criativas.

Haverá muito mais para dizer sobre Rise of the Tomb Raider e sobre Horizon Zero Dawn, como o facto de parecerem dois jogos excelentes no que respeita gráficos e jogabilidade pelo que vimos nas demonstrações. Prevê-se que sejam experiências diferentes, focadas em aspectos distintos, mas argumentos sólidos a favor da compra de uma outra consola da corrente geração e bons exemplos para a discussão sobre as mulheres nos videojogos, sejam personagens ou membros da comunidade, que continua a ser relevante para contrariar uma postura misógina não rara. Para já uma coisa é certa: tanto a Xbox One como a PlayStation 4 têm exclusivos de peso a caminho. Ganham os jogadores.

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