Embargo
“O que é um embargo?” poderão perguntar. A resposta é simples: é uma data estipulada pela editora, antes da qual nenhum jornalista está autorizado a publicar uma análise (ou antevisão) do jogo em questão. Quando as críticas começam a chover a potes no Facebook e no Metacritic é sinal de que o embargo expirou.
O benefício pode não ser óbvio, mas é vital para os meios especializados e, consequentemente, para o público. Isto porque garante que os jornalistas/críticos têm até à data estipulada para testarem o jogo devidamente e formarem uma opinião concreta sem terem de se apressar, preocupados em serem os primeiros a publicar o veredicto. Isto garante, à partida, que todos os meios de comunicação ligados à indústria, grandes e pequenos, estão em pé de igualdade. E a igualdade é uma coisa muito bonita.
Mas como não há bela sem senão, o embargo pode ser utilizado de forma mesquinha e matreira, como a Ubisoft fez questão de comprovar com Assassin’s Creed: Unity, cujo embargo terminou no dia de lançamento do jogo por volta da hora de almoço, dependendo do fuso horário. Resultado: quando os “peritos” puderam partilhar as suas críticas, já centenas de milhares de jogadores tinham o jogo nas mãos (muitos deles aliciados pelos bónus da pré-compra).

Isto gerou uma revolta por parte do público, que se sentiu enganado por gastar dinheiro num produto com falhas que tinham vindo a ser escondidas durante a promoção anterior ao lançamento, e dos críticos que se sentiram amordaçados e completamente dependentes das editoras.
Porquê dependentes? Porque a relação entre um meio de comunicação e uma editora é algo frágil e é a editora que tem a faca e o queijo na mão em qualquer situação. Um jogo sem cobertura mediática ou análise publicada continuará a ser vendido numa loja, mas um site sem conteúdo (porque uma editora decidiu boicotar o dito site por não respeitar um embargo, por exemplo) não tem visitantes e sem visitantes não tem publicidade, que é o que gera dinheiro para pagar ordenados. Em suma, as editoras vivem bem sem os meios de comunicação (com vendas piores, provavelmente, mas vivem), enquanto os meios de comunicação se arriscam a morrer sem as editoras.

Não surpreendentemente, o embargo suspeito tinha razão de ser. Unity chegou às mãos dos jogadores com vários problemas, alguns leves e típicos, outros mais profundos e atrozes. Assim aconteceu, em grande parte, porque os jogadores não puderam ler/ver/ouvir os veredictos finais de quem tinha acesso ao jogo. Felizmente, os protestos ecoaram e obrigaram a uma resposta por parte da Ubisoft, que prometeu redimir-se das suas práticas condenáveis. Vale o que vale e estaremos cá para ver se a promessa é cumprida.
Em jeito de conclusão, estas não são as únicas boas ideias corrompidas pela indústria; há muitas mais e mais virão à medida que forem surgindo novas boas ideias. É algo incontornável, especialmente por se tratar exactamente de uma indústria. Os custos de produção e promoção para títulos AAA estão cada vez mais elevados e isso exige que se corram menos riscos e que o retorno seja maior. A moral disto tudo? Como em tudo, a indústria dificilmente mudará por si só. Teremos de ser nós, os jogadores, a mudar as nossas práticas para que as editoras mudem as suas.
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